Ana Paula Maia.

Escrevi sobre a escritora Ana Paula Maia, e publiquei no blog "A Literatura na Blogosfera". Em breve, escreverei sobre ela aqui também.

A chave de Casa, de Tatiana Salem Levy


Eu pensei que ia demorar um pouco para postar mais algum texto sobre a literatura brasileira, até mesmo porque dois dias atrás publiquei um sobre o escritor pernabucano Marcelino Freire e que provavelmente ainda ninguém leu: tomara, oh Deus tomara que algum dia as pessoas leiam e acompanhe este blog.
Mas eis que navegando na internet e nos blogs, me deparo com esta jovem escritora, linda e magnífica tanto por fora quanto por dentro. Vejam o olhar dela. Não preciso dizer mais nada, no que se diz a sua beleza física. Quanto a sua beleza meta-física, ou seja, para além do físico, tenho muito a dizer.
A jovem escritora, chamada Tatiana Salem Levy, ganhou nada mais nada menos que o prêmio São Paulo de Literatura na categoria de O Melhor Livro do Ano na condição de Estreiante, com o seu romance "A chave de Casa". Nascida em Lisboa, vindo para o Brasil aos nove meses de idade, com ascendência judia, portuguesa e turca, ela escreve um dos melhores romances da literatura judaica brasileira, ao lado de escritores como Moacyr Scliar, Cíntia Moscovitch e Samuel Rawet.
O enredo do livro é a sua missão, incumbida por seu avô, de ir à cidade de Esmirna, na Turquia, para encontrar a sua casa deixada para trás quando tiveram que se exilar no Brasil. A casa e os parentes. A personagem-narradora vai, e no caminho, e na sua estádia e em seu regresso, ela vai se perguntando sobre a sua identidade no mundo: quem sou eu? A questão não consiste em saber qual "raça" ou "nacionalidade", e sim saber "quem" ela é. Portanto, uma questão existencial.
Sobre o livro de Tatiana Salem, diz o poeta Moacir Amâncio no jornal O Estado de São Paulo: "é preciso avisar: não se trata de um livro "típico" cheio de folclore, curiosidades e outros temperos turísticos. Há material étnico no romance, mas isso em função dos questionamentos existenciais que a escritora propõe. Um questionamento feito a partir da errância que marcou o passado da narradora. Descendente de judeus sefarditas da Turquia, cujo ancestrais foram expulsos de Portugal pela inquisição, ela revive no âmbito da família o legado de exílio e segurança a partir da dificuldade de entender a articulação da identidade do indivíduo com o grupo e o conceito do nacional. Em suma, o que é existir de fato, além das ficções ideológicas?"

E sobre a sua estética, diz ainda Moacir Amâncio: "Salém concebeu um painel que se sintetiza na voz da narradora e nas vozes que ela cria e torna suas, confundindo-se com elas. Um rercurso hábil, que lhe permite lidar de modo desenvolto com as diferentes personagens e camadas de espaço e tempo" - para ver este artigo completo, vão no site Germina Literatura.

Mas, voltando à escritora. Ela, além de romancista é contista, tradutora de obras literárias inglesas e francesas e doutora em Estudos da Literatura. Já havia publicado um livro teórico: "A experiência de fora: Blanchot, Foucault e Deleuze", e contos na revista "Ficções 11", nas antologias "Paralelos", e em "25 mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira". Como vencedora do prêmio São Paulo de Literatura, embolsou 200 mil reais e está escrevendo um outro livro. Além de sua exuberância, a sua voz é linda também. Quem quiser ouvi-la, é só ir em: Letras e Leituras.
Glauber da Rocha.

Marcelino Freire, um pernabucando porreta que dá "gostio" de ler.


Outro autor que vale à pena ler é: Marcelino Feire, pernambucano porreta, arretado, que mora em São Paulo desde os 23 anos, onde ele se sente terrivelmente estrangeiro. Ele, por ser de fora, preferiu o olhar dos pernabucanos e dos nordestinos sobreviventes do grande caos que é São Paulo. Incorporando as suas personagens em primeira pessoa, como quem não escreve mas atua em cima do palco, a sua narrativa é uma espécie de dialeto nordestino misturado com o dialéto paulista e paulistano, carregada de palavrões, repetições, num ritmo perfeitamente poético, que faz dele não um jornalista urbano, mas um estéta da pobreza, da miséria e da exclusão social.

Sobre a sua estética, diz Cláudia Fabiana no Sararau: “Seus Contos Negreiros” me prenderam desde o primeiro instante, levei-os para a sala de aula, para as rodas com amigos, e a cada leitura crescia o impacto da linguagem direta, da pontuação cotidiana, do silêncio significante. Como pequenos socos no estômago que, em uma sequência permanente, machucam pra valer, os contos são curtos, grossos e cantam em tom irônico-mordaz histórias de um Brasil nada heróico.

Agraciado com o prêmio Jabuti, com o seu livro de contos “Contos Negreiros”, publicado pela Record, vem alcançando sucesso de público e é claro, de crítica; ganhando grande destaque na cena literária brasileira atual. Além dos seus livros “Angu de Sangue”, Balé Ralé” e “Racif - Mar que Arrebenta”, ele aparece em antologias de autores como nos livros “Geração 90″ e os “Transgressores”. Ainda, é o organizador da antologia “Os Cem Menores Contos Brasileiros”.

Tem 41 anos de idade, e não perde tempo. Quanse não para em casa, vive “passeando”, como dizem os amigos, envolvido em realizações de projetos literários, como a “Coleção 5 Minutinhos”, onde ele inaugurou o selo eraOdito. É organizador do “Balada Literária”, evento já em sua terceira edição.

Sobre o seu terceiro trabalho enquanto escritor - o primeiro é o de escrever, o segundo, o de conseguir uma editora, e o terceiro, é divulgar-se - diz ele, no site JB online: “é preciso sair do casulo, lançar mãos à obra. Atrás de leitor, o escritor pernambucano vai, jura, até a velório, se o chamarem – porque, em tempos de “celular que apita, toca, fotografa, faz a barba”, o jeito é batalhar a atenção do público, custe o que custar.”

* é um dos editores da PS: SP, revista de prosa e mantém um blog: eraOdito.

Veja a entrevista de Marcelino Freire no Encontros de Interrogação:

Glauber da Rocha.