Hoje vou falar da escritora Ana Paula Maia, autora dos livros "Habitantes das Falhas Subterrâneas", "Sexo, Drogas e Tralalá", "Entre Rinhas, Cachorros e Porcos Abatidos". Olha o que diz o autor do site "Click (In)Versos" sobre essa promissora escritora na cena da literatura brasileira e mundial:

"Uma mulher que escreve com uma voz masculina e mancha o papel com a violência dos meninos que povoam seu imaginário. Uma moça certinha que esconde uma escritora punk, um texto ácido e um humor leve. Ou seja, uma bastarda, como ela mesma se considera, que te arrasta para o lado avesso do cotidiano, para os lugares que poucos gostam de frequentar".

Estranho, não? Uma mulher que escreve com voz masculina e mancha o papel com a violência dos meninos que povoam o seu imaginário... Mas é exatamente isto. Ela disse que já tentou escrever com a voz feminina, num conto, mas, ao ler o que escreveu, percebeu nele a voz de homem. Depois disto, nunca mais se aventurou, e continua escrevendo como se fosse um, povoando a sua narrativa com meninos cruéis.

Ana Paula Maia possui uma narrativa agressiva, violenta, mas com uma certa leveza. Diz que a maioria das histórias que ela conta vem de seus sonhos/pesadelos, onde ela sempre é a vítima. Então ela fica pensando sobre isso, e quando o cotidiano lhe exige algo a mais, põe no papel tudo o que sonhou.

Começou escrevendo um roteiro para um curta-metragem, depois, escreveu o "Habitantes" em dois meses e meio. Não sabia se ia chegar em algum lugar como escritora, mas escrevia. Assim que acabou o romance, mandou para as editoras, sem ter alguma resposta positiva. Então, uma pessoa lhe indicou para a 7 Letras, e seu livro foi publicado.


Depois, participou de algumas antologias, como a famosa "As 25 mulheres que estão fazendo literatura brasileira". Participou também de uma antologia italiana chamada Sexy in Bossa e da antologia "Contos Sobre Tela".


Enquanto era publicada, Ana Paula Maia escrevia o seu "Guerra dos Bastardos". Neste tempo, Fábio Fabretti lhe sugeriu escrever um livro de micro-contos. No começo ela não gostou da idéia, porque gosta de escrever bastante, mas, resolveu aceitar o desafio, e acabou escrevendo o "Sexo, Drogas e Tralálá".

O Entre Rinhas, Cachorros e Porcos Abatidos é uma novela que ela escreveu na internet, é o seu Folhetim Pulp, como costuma dizer. Primeiro, foi publicado os seus três primeiros capítulos na revista Sexy in Bossa com o título: Não deve se meter em porcos que não te pertencem. Depois, quando ela criou o seu blog, o Killing Travis, ela postou o Entre Rinhas, Cachorros e Porcos Abatidos, que é uma história violenta e difícil de digerir, com certas sátiras políticas.

No seu blog, Killing Travis, tem três contos que se pode ler de graça. São narrativas curtas, rápidas, com nítida estética contemporânea, que são os: "32 Dentes", "Teu sangue em meus sapatos engraxados", e "Nós, os excêntricos idiotas". Num deles, Ana Paula Maia dedica seu contos a Santiago Nazarián, nosso autor já conhecido neste blog. É ler e conferir o talento desta escritora com jeito de menina por fora e escritora punk por dentro, ou será vice-versa?

Glauber da Rocha. Não se esqueçam de mim também, lendo o "Muita Ironia e Pouca Vergonha na Cara."

poema de abertura

I

Agora que já não consigo mais tampar a boca do vulcão em final de ciclo, eu saio de cima do topo e corro da explosão de fogo entre lavas e chamas que primeiro sobe ao céu, saundando-o, e depois desce à terra para realizar toda a sua varredura astral.

Desçam!, ó lavas em chamas, e queima toda a cidade que te ignorou! Derrube casas, varre ruas juntos com a iluminação elétrica, e entre nas redes de esgoto para acabar com tudo o que há de mais podre e fétido!

Nade nos rios, mate os peixes já apodrecidos, aniquile as algas e volte para a avenida onde os humanos se encontram desesperados. Abraze e lance chama nos corações dos homens endurecidos; entre no meio das pernas das mulheres prostituídas, e nos bancos em que os corruptos depositam seus roubos e faça uma fornalha verdadeiramente santa!

Queime tudo! Não deixe nada que mereça ser impune! Seja maior que a destruição de Sodoma e Gomorra! Fique na História dos maiores estragos da Natureza! E depois, ah, e depois cesse, para que a chuva regida por Vênus caia e limpe toda a sujeira...

II

Eu olhei para a face mais maravilhosa do Verbo!
E somente quem passa por esta grande experiência,
pode ter o agnosticismo por Filosofia,
e o Deísmo como crença!

Senhores, sabe muito pouco a ciência que odeia o Mistério
e não compreende os símbolos místicos...

Eu mesmo passei por nove anos construindo a mesma casa,
para depois concluí-la e abrir as portas.

Vejam agora, o piso é liso, o carpete é Árabe, e as cortinas, indianas...

O que era apenas areia, cimento e tijolos são agora parecidos com o pão, o vinho e a planta, aquela da Amazônia...

Foram nove anos, Senhores! a jornada cujo início foi batizada por luzes e que me conduziu para um deserto de sofrimento e jejum.

Eu venho de uma espiritualidade demasiadamente forte...

III

De vez em quando eu preciso descer nas profundezas inferiores
e tomar um trago do veneno que oferece o próprio Diabo
para não esquecer que sou filho do Pecado
e que a minha condição é categoricamente humana....

São os senhores que brigam de espada.
São os desbravadores que abrem os terrenos à base de foice,
e os agricutores que trabalham na enxada.
O índio não quer ser cacique à toa.
E para cada mulher bonita e sensual
há em volta sete homens.

Beba pois, e torne-te um malandro!
Levanta a tua guarda e sorria!
Os pobres e miseráveis não usam a inteligência nem a força...

Tenha o que é teu,
Seja o que você é,
Para depois, ter o pleno direito de levantar louvores
e dar a Deus o que é de Deus, oh santo guerreiro...


Glauber da Rocha.

poema de agradecimento.

Oh Senhor Deus do Universo Inteiro; agradeço-te por me deixar nascer nesta Terra de falsos profetas, pastores mercenários e lobos vestidos de peles de cordeiro...


Sim, ó Senhor do Universo, sou muito grato por viver numa Terra de políticos corruptos, de empresários gananciosos, de gente assassina e cruel. Do contrário, oh Senhor, jamais teria tido a chance de morrer a cada dia de sede e de fome, jogado nos corredores da Santa Casa como um moribundo órfão de pai mãe e padrinhos...

Oh, Jesus, agradeço por poder presenciar a arrogância e o egocentrismo da maioria das pessoas, metidas em seus carros de luxos e casrões com mil cercas elétricas e doze mil doberman's furiosos.

Agradeço tudo isto, oh Senhor

Hoje, Senhor, a lua nasceu bonita.

Glauber da Rocha.