A chave de Casa, de Tatiana Salem Levy


Eu pensei que ia demorar um pouco para postar mais algum texto sobre a literatura brasileira, até mesmo porque dois dias atrás publiquei um sobre o escritor pernabucano Marcelino Freire e que provavelmente ainda ninguém leu: tomara, oh Deus tomara que algum dia as pessoas leiam e acompanhe este blog.
Mas eis que navegando na internet e nos blogs, me deparo com esta jovem escritora, linda e magnífica tanto por fora quanto por dentro. Vejam o olhar dela. Não preciso dizer mais nada, no que se diz a sua beleza física. Quanto a sua beleza meta-física, ou seja, para além do físico, tenho muito a dizer.
A jovem escritora, chamada Tatiana Salem Levy, ganhou nada mais nada menos que o prêmio São Paulo de Literatura na categoria de O Melhor Livro do Ano na condição de Estreiante, com o seu romance "A chave de Casa". Nascida em Lisboa, vindo para o Brasil aos nove meses de idade, com ascendência judia, portuguesa e turca, ela escreve um dos melhores romances da literatura judaica brasileira, ao lado de escritores como Moacyr Scliar, Cíntia Moscovitch e Samuel Rawet.
O enredo do livro é a sua missão, incumbida por seu avô, de ir à cidade de Esmirna, na Turquia, para encontrar a sua casa deixada para trás quando tiveram que se exilar no Brasil. A casa e os parentes. A personagem-narradora vai, e no caminho, e na sua estádia e em seu regresso, ela vai se perguntando sobre a sua identidade no mundo: quem sou eu? A questão não consiste em saber qual "raça" ou "nacionalidade", e sim saber "quem" ela é. Portanto, uma questão existencial.
Sobre o livro de Tatiana Salem, diz o poeta Moacir Amâncio no jornal O Estado de São Paulo: "é preciso avisar: não se trata de um livro "típico" cheio de folclore, curiosidades e outros temperos turísticos. Há material étnico no romance, mas isso em função dos questionamentos existenciais que a escritora propõe. Um questionamento feito a partir da errância que marcou o passado da narradora. Descendente de judeus sefarditas da Turquia, cujo ancestrais foram expulsos de Portugal pela inquisição, ela revive no âmbito da família o legado de exílio e segurança a partir da dificuldade de entender a articulação da identidade do indivíduo com o grupo e o conceito do nacional. Em suma, o que é existir de fato, além das ficções ideológicas?"

E sobre a sua estética, diz ainda Moacir Amâncio: "Salém concebeu um painel que se sintetiza na voz da narradora e nas vozes que ela cria e torna suas, confundindo-se com elas. Um rercurso hábil, que lhe permite lidar de modo desenvolto com as diferentes personagens e camadas de espaço e tempo" - para ver este artigo completo, vão no site Germina Literatura.

Mas, voltando à escritora. Ela, além de romancista é contista, tradutora de obras literárias inglesas e francesas e doutora em Estudos da Literatura. Já havia publicado um livro teórico: "A experiência de fora: Blanchot, Foucault e Deleuze", e contos na revista "Ficções 11", nas antologias "Paralelos", e em "25 mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira". Como vencedora do prêmio São Paulo de Literatura, embolsou 200 mil reais e está escrevendo um outro livro. Além de sua exuberância, a sua voz é linda também. Quem quiser ouvi-la, é só ir em: Letras e Leituras.
Glauber da Rocha.

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