Prosa e Verso para o meu terrível Regresso.

A literatura séria me despreza,
não sou digno de desatar as chinelas de Guimarães Rosa.

Ainda que a produnfidade de meus poemas
atingisse o céu da boca deles,
não me vomitariam.

Eu sou um desses que pega a estrada,
que renega absolutamente a vida em torno do lucro,
o vagabundo que ri faceiramente da cara do patrão,
a voz de uma geração de jovens descontentes...

Chega de falar em versos. Vamos para a prosa, para um ano atrás. Era véspera de Carnaval. Eu cheguei em casa mais revoltado do que nunca. Falei: eu vou-me embora. Para onde?, perguntaram-me com olhos aflitos. Não sei. Eu vou para o mundo. E para o mundo fui, com uma pequena mochila nas costas.
É muito difícil para um poeta filósofo manter o equilibrio aqui no Brasil. O venveno da Filosofia quando entra na veia humana mata toda a inocência.
Você acaba sabendo que a maioria das coisas que você aprendeu na vida não é verdade, que a escola te enganou, que a igreja te enganou, que a televisão te enganou, e ainda você tem que saber superar tudo isso.
Você aprende que seu país é um país sub-desenvolvido, enquanto que hora ou outra um país desenvolvido é mais pobre que o nosso.
Você aprende que tem que ter desapego material e com isso todo mundo passa em cima de você e leva tudo o que é teu.
Você aprende dizer amém enquanto quem te ensinou fala não vem que não tem...
Eu coloquei a mochila nas costas sim, e saí sem rumo, em direção ao Mundo, e apenas pela manhã, quando o sol raiou, e já cansado de tanto andar pelo encostamento da rodovia, pararam para me dar carona.
Entrei no carro, olhei para o sol, e disse: a minha alegria brilha agora mais que os raios da aurora...
Senti a liberdade, fiz novos amigos, tomei banho de rio, dormi em praças, pulei Carnaval, transei, fumei, curti.
Guimarães Rosa jamais teria feito isto.
Machado de Assis nem pensar.
Bukovisky quase.
Kerouac sim.
Rimbaud, extrapolou: atravessou a França à pé, alcançou o mar da Àfrica, foi e voltou.
Por que voltou?Para passar raiva, atenuar seu desprezo pelos fracos. Coisa que não suportou, e voltou para a África, para nunca mais voltar...

E por que eu voltei?!
Agora vivo que nem um Beckett.
Agora vivo que nem um Joyce.
Ando de um lado para outro, tentando me adaptar...
Peso na balança: há mais contras do que prós.
Lá tem a estrada, e tem o verde, e tem os rios, e tem as mocinhas inocentes.
Aqui só tem conversa fiada.
Na rodovia, se um homem querer lhe matar, é só matá-lo: quem vai te acusar?
Já aqui o melhor é morrer...

Deus do céu, como queria ser um homem equilibrado!
Ter ganâncias, querer ser rico à todo jeito, comprar carro importado!
Não ter o mínimo de reflexão sobre a verdade.
Essas verdades que de tanto ser repetidas, acabaram se fixando.
Se fixando como as viseiras sendo colocadas nos burros...

Jesus Cristo, beba um trago do vinho no gargalho,
seja meu amigo e fica bêbado uma vez comigo,
diga que o Senhor não é nenhum mágico,
que prefere dar a vida dura a seu filhos...

Seja franco e direto
Fala que seu caminho é de pedras e espinhos...

Corta! Corta! Corta!
Corta o ritmo da poesia.Veja a cena. Mãe e filhos em volta, na frente da merda da tevê. Chega o filho. Bêbado. E diz, estou indo embora. Para onde, meu filho? Para o Mundo, responde ele. E vai. Vai embora para o Mundo. Então, alguém pergunta: para onde foi o teu filho? A mãe responde: para o Mundo...

Glauber da Rocha.

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