Santiago Nazarian.


* Para ver a postagem anterior deste assunto "Literatura Brasileira na Blogsfera", vá "A Literatura na Blogosfera - Introdução".

O primeiro que encontrei foi Santiago Nazarian. Apesar de jovem, que apesar?! ele escreve como todo escritor deve escrever: o que quer, o que sente, o que deve ser escrito. Seguindo esta intuição própria dos escritores que vêm para ficar, Santiago já escreveu quatro romances, todos publicados pela Editora Record. São eles: O Prédio, o Tédio e o Menino Cego; Mastigando Humanos, Feriado de Mim Mesmo, a Morte sem Nome, e Olívio. Em seu blog, Amor & Hemácias – título bem ao seu estilo e portanto coerente – ele expõe trechos de quatro romances.
O primeiro dele, o surpreendente Mastigando Humanos, conta uma história que aponta para diversas interpretações. O personagem principal é um jacaré. Foi o momento que eu acabei achando um escritor parecido comigo: eu tenho um romance que o personagem principal é um lobo! Mas não só isso. Me identifiquei com a sua linguagem ágil, veloz, envolvendo o leitor em imagens, sons, gostos, e críticas atrás de críticas. De vez em quando, lembra Rimbaud. Só que um Rimbaud atual, que fala de certo símbolos presentes apenas em nossa época, como a camisa do Ramones que Santiago Nazarian faz referência. Um Rimbaud decidido a escrever o que quer escrever, dane-se o resto, o amanhã é depois.
Digo isto porque há muita injustiça contra os jovens escritores. Ninguém pode dizer que a obra de Guimarães Rosa é melhor que a de João Antônio porque o primeiro era mais maduro e o segundo, jovem. Não. Cada qual tem o seu valor pessoal. O que seria uma lástima era ver João Antônio escrever como um velho e Guimarães Rosa escrever como um jovem. Portanto, cada qual tem o seu valor, individual. Agora, você já pensou se João Antônio não publicasse àqueles seus contos de Malagueta, Perus e Bacanaço? E se Álvaro de Azevedo não nos desse a Lira de Vinte Anos? Caso por um motivo ou por outro ele continuasse vivo e mudado de pensamento e de Escola?Não sei se fui claro. Mas o que quero dizer é isso: o jovem escritor, quando talentoso, deve ser apreciado. Não importa se ele não pensa “certo”, se ele está numa Escola que não concordamos, o que importa é a sua arte e ponto. Em “Feriado de Mim Mesmo”, outro texto elaborado por jovem. A personagem-narrador, que parece ser o alter-ego de Santiago, não tem vergonha de relatar a solidão que sente no Dia dos Namorados. Um velho, quem sabe, não faria isso: falaria de solidão, mas não a dele. Ou falaria a dele mas com justificativas, ornamentos, rodeios. Coisa que Santiago não faz: fala direto, do seu jeito, o que sente, o que pensa, e não está nem aí para a crítica, e isto é fundamental.
Já no romance “A Morte sem Nome”, a coragem que Rubem Fonseca não teve, pelo fato de passar a vida inteira falando eu sou espada, eu sou espada, eu sou espada. Eu gosto do Rubem, gosto do Nelson Rodrigues, mas não gosto da idéia fixa. Hoje o novo conceito de inteligência demonstra que quem guarda muito conhecimento, quem fixa muita coisa, é na verdade um burro que empaca. O inteligente não é aquele que se decide para a vida inteira. O inteligente é aquele que está aberto às mudanças, a rever seus conceitos, a sua postura, e movimenta-se, faz de tudo.
E o escritor inteligente faz isso. E a primeira coisa que Santiago fez foi colocar-se a baixo e a favor da arte, em prontidão, e assim, teve a coragem de escrever em primeira pessoa a história de uma personagem feminina. Santiago virou mulher, mas na arte, tal como os artistas fazem nos palcos, vivenciou o outro lado e renovou seus conceitos, o modo de ver o universo feminino.
No romance “Olívio”, o fim de um namoro por um problemazinho insignificante, onde Santiago fala de sexo, mostrando como seus personagens não têm tanta consciência do que são. Isto que é maravilhoso. Já pensou? O escritor sabe que seus personagens são de certa forma prisioneiros, mas escreve sem comentar isso: se fizesse, iria ser uma literatura chata, com personagens cheios de razões, e etc. No fim, ficamos um pouco decepcionado com a forma que as personagens vão tomando decisões. Dá um sentimento de frustração...
Mas, isso acontece porque o autor foi fiel à realidade; e se dermos ouvido e coração para tantos casos amorosos que escutamos por aí, podemos chegar até mesmo na conclusão de que o mundo não presta, que a vida é cretina.
É bom ser jovem, ler jovem. A linguagem de Santiago Nazarian é uma linguagem que vai se apropriando dos objetos, dos seres em sua volta, do pensamento. Faz isso com música, com imagem e com idéias. Excelente escritor, que, a cada ano que passa, a cada romance que publica, vêm ficando cada vez melhor e maduro. Sucesso de publico e de crítica, ler seu livro é garantia certa de uma ótima experiência estética.
* Para ver a próxima postagem da série deste assunto, vá em "Literatura na Blogosfera 2 - Ana Maria Gonçalves.
Glauber da Rocha.

0 comentários:



Postar um comentário